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CURRÍCULO, ESCOLA E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Agosto/2006

Para Ana Lúcia Lopes antes de refletir sobre o currículo e suas implicações na constituição de identidades individuais e sociais é preciso refletir sobre a função social da escola e as condições de acesso da população negra ou mestiça a esta instituição e sua permanência na mesma. Para a autora a Escola em nossa sociedade é a segunda instituição responsável pelas relações de sociabilidade de crianças e jovens. A primeira é a família. É a Escola que vai ajudar na sociabilidade e na construção de identidades. As regras e os valores são experimentados sob a ótica do grupo. Para ela as experiências iniciais na escola podem definir a base de uma trajetória escolar mais tranqüila ou mais atribulada. Aqueles que se sentem acolhidos, incluídos e integrados constroem uma auto-estima positiva, que vai lhe possibilitar um sucesso escolar.

A escola que conhecemos é a escola dos princípios do pensamento liberal, da Revolução Francesa, com base no individualismo, propriedade, igualdade e liberdade.

“Essa escola deveria garantir o respeito aos talentos e aptidões individuais e o desenvolvimento máximo da capacidade de cada um, bem como a liberdade individual nas escolhas, no sentido de melhor aproveitar as potencialidades individuais, em respeito à personalidade de cada um”.

Ana Lúcia Lopes

Esse desenvolvimento humano independe da família, das instituições religiosas e das classes sociais.

Ainda é muito precário os dados sobre a trajetória escolar dos alunos negros e mestiços no Brasil, desde o ensino fundamental até o universitário. O material que temos sugere que a vida escolar dessas crianças é mais difícil e acidentada que a das crianças brancas, elas enfrentam maior número de saídas e voltas para o sistema escolar. Os dados sobre o analfabetismo e os dados de anos de instrução formal por cor ou raça nos revelam níveis inferiores de escolaridade na população de ascedência africana. Há sem dúvida um processo de exclusão escolar voltado principalmente à população negra e mestiça. E essa tem sido a função social da escola especificamente para a população negra e mestiça na nossa sociedade.

O currículo vem a ser a forma de organização do conhecimento escolar. Ele não é e nem nunca foi neutro e desinteressado na transmissão de conteúdos do conhecimento social. Ele vai aparecer sempre imbricado em relações políticas de poder e de controle social sobre a produção desse conhecimento.

A autora vai indagar: como fica a auto-imagem e auto-estima do negro e do mestiço num currículo em que o espelho oferecido é o da omissão de sua imagem, da falta de prestígio social e histórico de seu povo. Há no currículo “conteúdos não ditos, valores morais explicitados nos olhares e gestos, apreciações e repreensões de conduta, aproximações e repulsas de afetos, legitimações e indiferenças em relação a atitudes, escolhas e preferências”. Essa violência simbólica vem carregada de exclusões para esses alunos menos favorecidos.

E para a autora não se trata de culpar a escola e os professores pela perpetuação de práticas racistas que ocorram, mas de refletir sobre o papel da escola e dos professores na transformação dessa situação.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LOPES, Ana Lúcia. Currículo, escola e relações ético-raciais. In: Educação africanidades Brasil. MEC – SECAD – UnB – CEAD – Faculdade de Educação. Brasília. 2006. p. 13-31.


 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º grau e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º grau. Professor Facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO - MEC - NTE - MG2.