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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

Ciclos

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

 

 

 

A nova configuração do mundo – a globalização do conhecimento e o mercado de trabalho remete, nós educadores, para a necessidade de um aprendizado constante e a necessidade premente de desenvolver em nossos alunos habilidades cognitivas, tais como: interpretar, compreender, aplicar, analisar, sintetizar, identificar, representar, avaliar, criticar, relacionar, etc., ele tem que aprender a aprender sozinho, ter autonomia, saber buscar aquilo que quer saber, saber onde encontrar as informações que necessita e selecionar estas informações. O papel da escola é ajudar o aluno a desenvolver o raciocínio para ser capaz de resolver problemas do cotidiano e saber ler de forma crítica o mundo que o cerca. Sabemos agora que toda verdade varia no tempo e no espaço e que ainda assim é questionável. Nossos alunos têm que ter capacidade para encontrar as informações que necessitar, no momento que delas necessitar e discernimento para selecionar estas informações. Por isso a escola deve deixar de ser conteudista, deve focalizar sua preocupação na capacidade do aluno de saber buscar informações nos diversos meios hoje existentes no mundo. Se o aluno for preparado para ser capaz de pesquisar, o conteúdo não importa, ele saberá, sozinho, encontrar o que necessita, no momento que precisar. E uma vez aprendido a fazer o levantamento, satisfatoriamente, saberá em situações diferentes realizar a contento outros levantamentos de seu interesse.

A LDB atual prevê três tipos de ensino: presencial, a distância e aberto. O primeiro acontece em sala de aula e o aluno deve cumprir 75% da carga horária prevista no ciclo, o segundo através de apostilas, rádio, televisão e o terceiro é aberto, você pode estudar em casa e depois vai à escola e solicita uma prova para poder receber o seu certificado.    

CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA

O trabalho em ciclos nos conduz ao processo de desenvolvimento do aluno, a uma progressão continuada. O aluno vai ter quatro ou oito anos para desenvolver determinadas habilidades, em seu ritmo e de acordo com seu interesse. Não há que ter pressas ou ansiedades. Temos que repensar e refazer os programas, enxugando-os. E deixar de centralizar importâncias em disciplinas ou conteúdos que muitas vezes são dados de forma inconscientes, sem mesmo sabermos a quem estamos servindo, e darmos atenção às múltiplas inteligências, tendo em conta sempre a diversidade e o respeito às diferenças, fortalecendo a auto estima do aluno e deixando de lado a avaliação como forma autoritária de conseguir disciplina ou a retenção como castigo. A reprovação não ensina nada a ninguém e o aluno retorna o ano seguinte da mesma forma e muitas vezes pior. Só serve mesmo aos interesses da classe dominante em manter a divisão de classes. O ciclo nos remete ao respeito ao ritmo de cada um. Ninguém precisa ser bom em tudo. E todos têm as suas capacidades e possibilidades de desenvolvê-las e têm direitos a oportunidades.

No trabalho em ciclos, toda a escola se empenha na educação do aluno. O trabalho é em grupo. E não é só ler, escrever e fazer conta, é muito mais, é formar o cidadão. O erro deixa de ser usado para diagnosticar a incapacidade do aluno, mas para poder observar quais as suas hipóteses e ajudá-lo a encontrar o acerto. No trabalho em ciclos, trabalhamos com princípios e não com regras, com argumentações e não com punições. Tudo tem que ser muito transparente: as atitudes da administração, dos professores e de todo o corpo de funcionários da escola. A escola tem no mínimo que ser honesta.

Tudo tem que ser revisto: desde o momento da matrícula do aluno na unidade de ensino, os rituais de entrada, os programas, as relações, os critérios de avaliação, etc. a escola tem que rever a sua estrutura. Não é pensar que só a sala de aula mudando resolve todos os problemas existentes. Toda a escola precisa mudar sua estrutura para que haja avanços.

No ciclo a proposta de trabalho é em grupos, tanto entre os profissionais da educação como entre os alunos. As turmas são heterogêneas, porque assim um pode ensinar o outro e todos podem aprender com todos. Todos têm que se unir para dar conta. Quanto menos regras houver menos tempo vamos gastar chamando a atenção de alunos. Os casos considerados como de maior cuidado devem ser olhados por mais profissionais, desta forma alguns alunos podem ser tirados de sala de aula para uma atividade extraclasse todos os dias durante uma hora ou o tempo necessário para que a turma descanse um pouco. E a escola tem o dever de esgotar todas as tentativas para recuperar o aluno e tudo deve ser anotado para que, em último caso, o aluno seja entregue ao conselho tutelar que passará a fazer o acompanhamento deste aluno, juntamente com seus familiares. 

FICHAS DESCRITIVAS 

As fichas descritivas podem ser de grande valia para o acompanhamento dos alunos e para auxiliar no resgate do mesmo e ela pode fazer também com que os pais passem a se interessar mais pela vida escolar dos filhos. E o conselho de classe é fundamental para que se possa elaborar essas fichas que devem ser construídas dentro das unidades de ensino pelos professores, de acordo com as necessidades de cada ciclo e de cada turma, as fichas têm que ser diferentes para cada realidade, e por todos aperfeiçoada no decorrer dos anos, dentro do campo cognitivo ou afetivo, de acordo com aquilo que a escola estabelecer como princípios. As fichas devem ser preenchidas com uma linguagem acessível aos pais dos alunos e aos próprios alunos. É preciso falar aos pais o que vai trabalhar com seus filhos para dar mais possibilidade dos pais ajudarem.

 

Texto elaborado a partir da palestra proferida

pela professora Silvia Garcia, no CAIC –

Santa Luzia, nos dias 5 e 6 de abril/99.

 
 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.