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EDUCAÇÃO & LITERATURA

 

CURRÍCULO E IDENTIDADE SOCIAL

 Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Agosto/2001

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO


 

 

 

Para Tomaz Tadeu o saber não está isento de intenções e efeitos de poder, pois o saber implica necessariamente dominação. Daí afirmar que currículo e poder estão mutuamente implicados. Para ele o poder está inscrito no interior do currículo através das divisões, inclusões/exclusões entre saberes e narrativas e das divisões e inclusões/exclusões no seu interior e das resultantes divisões/exclusões sociais. Aquilo que dividi o currículo, que diz o que é conhecimento e o que não é conhecimento – e aquilo que essa divisão dividi – que estabelece desigualdades entre indivíduos e grupos sociais é o poder. Quais conhecimentos estão incluídos e quais estão excluídos no currículo? Quais grupos sociais estão incluídos e de que forma estão incluídos? E quais os grupos sociais que estão excluídos? Essas divisões e essas inclusões e exclusões é que produzem ou reforçam as divisões sociais de gênero, raça, classe. 

A idéia do autor é que os significados são produzidos e postos em circulação através de relações sociais de poder que atuam no intuito de tornar o mundo governável. É no currículo que o nexo entre representação e poder se realiza e se efetiva. 

O autor afirma que o currículo é a construção de nós mesmos como sujeitos. Ele não está envolvido num processo de transmissão ou de revelação, mas num processo de constituição e de posicionamento: de constituição do indivíduo como um sujeito de um determinado tipo e de seu múltiplo posicionamento no interior das diversas divisões sociais. As narrativas contidas no currículo dizem qual conhecimento é legítimo e qual é ilegítimo, quais formas de conhecimento são válidas e quais não o são, o que é certo e o que é errado, o que é moral e o que é imoral, o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio. Quais vozes são autorizadas e quais não são. Quais grupos podem representar a si e aos outros e quais podem apenas ser representados ou mesmo excluídos de qualquer representação. Valoriza algumas formas de vida e de cultura de determinados grupos desvalorizando outras. Contam histórias reafirmando noções particulares sobre gênero, raça, classe. O discurso do currículo autoriza ou desautoriza, legitima ou deslegitima, inclui ou exclui. O currículo, juntamente com muitos outros discursos nos faz ser o que somos. Ele é muito mais que uma questão cognitiva ou uma construção do conhecimento. Ele é a constituição de nós mesmos como sujeitos.

Para o autor identidades sociais e regimes de representação estão intimamente ligados. Os diferentes regimes de representação funcionam como formas de conhecimento que são dependentes das identidades sociais daqueles grupos que os produzem e esses regimes, por sua vez fazem parte do processo de criação e manutenção de identidades sociais. A representação é um processo de produção de significados sociais através dos diferentes discursos. É através dos significados, contidos nestes diferentes discursos, que o mundo social é representado e conhecido de uma forma particular e que o eu é produzido. Essa forma é determinada pelas relações de poder.  

Como exemplo de regulação moral no currículo, podemos citar a não aceitação de comportamentos que não sejam dentro dos padrões ditos “normais” de sexualidade, sempre moldando os impulsos físicos. A defesa do casamento, da família e dos filhos. 

O currículo é constituído de múltiplas narrativas, segundo o autor, pois conta histórias sobre nós e o mundo que nos ajudam a dar sentido. O poder de narrar está estritamente ligado à produção de nossas identidades sociais. As narrativas além de ajudarem a dar sentido ao mundo, contribuem para constituí-lo e a constituir a nós. É através de histórias sobre o passado que podemos dar sentido ao presente e construí-lo, e imaginar um outro futuro. Através das narrativas, identidades hegemônicas são fixadas, formadas e moldadas, mas também contestadas, questionadas e disputadas.

 

Referência Bibliográfica

 SILVA, Tomaz Tadeu. Currículo e identidade social: outros olhares.

 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.