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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

O USO DA INTERNET PARA FINS EDUCATIVOS

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Agosto/2001

 

Para Weininger (1996) a Internet é uma ferramenta muito eficiente para o ensino em geral, e para o ensino de línguas estrangeiras em especial. Ela permite o acesso fácil de professores/as e alunos/as a uma infinidade de material informativo autêntico e atualizado sobre todos os assuntos da cultura alvo, além de dar muitos exemplos concretos e de mostrar as possibilidades de usar a rede para projetos interativos e para a formação e capacitação de professores/as.  

A REDE MUNDIAL DE DADOS 

A explosão de informações e conhecimentos humanos continua ocorrendo em ritmo cada vez mais acelerado: existem entre 100.000 e 300.000 revistas científicas e técnicas no mundo, o que equivale de 3 a 10 milhões de ensaios e artigos por ano. Dois mil livros são publicados a cada dia, um terço deles em inglês, alemão e francês (230.000 por ano). Só os pesquisadores publicam 7.000 trabalhos por dia. Oitocentas mil patentes são registradas por ano.

A sociedade de informações produz quantidades imensas de informações, e gerou meios para sua estocagem, numa "memória global" computadorizada, acessível e interligada pelas redes mundiais de computadores. Estes bancos de dados (mundialmente cerca de 8.000) dão acesso ao seu conteúdo em poucos segundos, através de buscas estruturadas. Muitos deles já não se contentam apenas com a informação sobre as fontes de dados e informações, mas trazem o próprio item, na íntegra, diretamente para o computador do usuário conectado.

O sistema internacional de redes de dados inclui redes científicas, redes comerciais, redes para fins educativos, redes para o uso exclusivo de empresas, redes militares, redes policiais, etc.

A Internet nasceu no final dos anos 60, quando o ministério da defesa dos EUA encomendou uma ligação entre os computadores mais potentes e importantes da nação, de modo que a comunicação de dados militares funcionasse mesmo depois de um ataque nuclear. A solução apresentada era um pacote tão genial quanto simples.

Já em 1972, esta rede militar (com o nome de ARPANET - Advanced Research Projects Agency Net) foi aberta à comunidade científica mundial e se transformou aos poucos na Internet. Inicialmente só utilizada por alguns institutos de pesquisa e poucos cientistas. Nas universidades, a Internet ganhou o papel de uma rede de comunicação planetária através do seu crescimento exponencial e suas convenções mundialmente estabelecidas. No Brasil, o acesso inicialmente era restrito às universidades e a alguns institutos. A partir de 1995, provedores comerciais dão acesso ao público em geral.

Em termos da teoria de sistemas, há uma analogia surpreendente com sistemas biológicos, como, por exemplo, processamento e estocagem de informações holísticas e distribuídas nas redes neuronais do nosso cérebro, a estrutura rigidamente caótica com controle descentralizado pela cooperação de todas as partes, a grande flexibilidade e capacidade de se adaptar a novas exigências com rapidez e sem interromper o funcionamento atual, a contribuição simultânea ativa e passiva de todos os componentes.

Em 1996, a Internet integrava mais de 40 milhões de usuários diretos em mais de 50 países.

Segundo o autor um dos cuidados que se deve ter com o uso das novas tecnologias no ensino é o de não se usar modelos didáticos da "idade da pedra" com a ajuda da tecnologia da "idade do espaço", sem nem questioná-los ou desenvolver novas formas, mais adequadas. Depois de uma fase inicial, de jogar apenas toda a produção impressa dentro da rede mundial de dados, hoje, devido à World Wide Web (WWW) e seus recursos multimídia, a Internet começa a sua própria linguagem, e, com as facilidades da linkagem entre elementos e meios normalmente separados, acrescenta formas inéditas de trabalhar e apresentar conteúdos. Partindo da teaching machine do behaviorismo skinneriano no início do uso do computador como instrumento didático, a metodologia da Internet de hoje se aproxima muito mais dos modelos construtivistas, que são amplamente citados como embasamento teórico do emprego destas tecnologias interativas no ensino. Tanto o ideário do construtivismo com o princípio básico de que no processo de aprendizagem, o estudante constrói e conecta elementos de compreensão em vez de repetir pedaços de instrução, quanto o do ensino interativo, que a mão dupla da interação facilita todo processo de apreender, por evitar barreiras mentais como o medo e a insegurança.

O uso da Internet, sem dúvida, representa o ponto mais avançado da aplicação das novas tecnologias para fins educativos, não apenas no sentido de hard- e software.

O USO DA INTERNET PARA FINS EDUCATIVOS

Para as escolas, a Internet, até o momento, ocupa um papel secundário. Atualmente (1996) encontram-se cerca de 1.000 escolas na rede no mundo inteiro. Existem, porém, projetos em vários países para incentivar o uso dos recursos da Internet para o ensino em geral. É preciso encorajar professores de todos os tipos de escolas a utilizarem o potencial da rede mundial de dados para as suas aulas.

Em primeiro lugar, a Internet não deve ser apenas encarada como milhões de computadores, cujos recursos podem ser compartilhados, e sim como os milhões de seres humanos atrás das telas e dos teclados: cientistas, professores/as, alunos/as e pais e mães que podem entrar em contato como pessoas, fazer perguntas ou respondê-las, discutir, trocar informações e dicas, colocar opiniões, divulgar informações e muito mais, independente do tempo e do espaço. Ao contrário do telefone, o/a remetente e destinatário de um e-mail ou os debatedores de um fórum de discussões não precisam participar ao mesmo tempo, um fator importante não apenas no intercâmbio entre continentes. Não há mais necessidade de reunir grupos de trabalho no mesmo lugar na mesma hora para poder resolver um problema em comum.

Evidentemente, a comunicação eletrônica abrange apenas uma parte da comunicação humana. Ela não pode nem deve substituir o diálogo pessoal (em aula) ou o contato humano direto. Mas ela abre dimensões novas de contato e comunicação adicionais, justamente além das limitações impostas por tempo e espaço, que não seriam possíveis (física e financeiramente) sem ela. O uso da rede mundial de comunicação propicia acesso à informação e comunicação mundial (os bens mais valiosos da sociedade do 3º milênio) para as regiões e instituições menos privilegiadas. Antes disponível apenas para a máquina militar da 1ª potência do planeta, hoje estão ao alcance de cada escola que possa disponibilizar um computador médio e uma linha telefônica para este fim. O uso produtivo da Internet para fins educativos é quase tão infinito quanto às ramificações da própria rede e encontra seu limite apenas na imaginação dos/as professores/as e alunos/as que queiram tirar proveito dela.

Todos os setores da sociedade (economia, política, instituições públicas e privadas) colocam à disposição da rede suas contribuições que consideram relevantes, interessantes, ou necessárias. O fato da concorrência esmagadora de ofertas informativas na rede faz com que as entidades sejam obrigadas a colocar atrativos gratuitos "no ar" para conseguir a atenção do público e justificar o investimento do serviço ou viabilizar patrocínios comerciais etc. Desta forma é possível encontrar informação de virtualmente todas as áreas de conhecimento e atividade humana através de uma busca direcionada com a ajuda das chamadas máquinas de busca que localizam em poucos instantes todas as ofertas relacionadas a um determinado assunto.

Com um pouco de experiência na busca de bancos de dados os resultados são surpreendentemente satisfatórios. Como normalmente cada página na rede está conectada diretamente a outras páginas relacionadas por meio de links, cada busca leva a um número grande de resultados pelo sistema cumulativo conhecido como "bola de neve". E o hipertexto é muito mais que simplesmente um texto ligado a outros textos, ele rompe com qualquer documento convencional, pela sua forma não linear e não seqüencial de apresentar diversos conteúdos. Acessamos os dados, descobrindo fatos e as relações existentes entre eles, processamos essas informações, relacionando e ordenando-as. E essa é uma forma natural de trabalhar com a informação, pois na vida real não lidamos com a informação de forma linear, somente na escola, até então, fomos formados e preparados para adotar uma postura linear.

Para o ensino de línguas estrangeiras, o uso da Internet pelos/as alunos/as não se limita a uma fonte (valiosíssima) de material autêntico da língua e cultura alvos. Navegando nas páginas deste país, o/a estudante experimenta a satisfação de dominar uma interação real no idioma alvo, tão importante para estimular a sua motivação no processo de aprendizagem.

Uma outra grande vantagem da Internet como fonte de informação é que todo o material encontrado é (pelo menos temporariamente) copiado para o computador de quem o acessa. Isto é, textos, tabelas, estatísticas, imagens, sons, vídeos etc., podem ser estocados, editados e reutilizados em trabalhos e projetos de qualquer natureza.

Em princípio, todo trabalho com informações da Internet é interativo, na medida em que o usuário dirige por escolha de menus ou de links o fluxo de dados. Ao contrário de assistir o programa informativo na TV a cabo, no serviço on-line, o "leitor" tem a possibilidade de se concentrar apenas nas áreas e nas notícias de seu interesse, fazendo com que ele obtenha muito mais informação específica em muito menos tempo.

Projetos interativos são chamados aqui trabalhos que nascem da interação de (grupos) de pessoas, alunos/as de várias escolas ou faculdades com setores específicos representados na rede, sejam eles/as outros/as alunos/as ou professores/as, órgãos públicos ou empresas particulares. Existem muitas opções para desenvolver projetos nas áreas de línguas estrangeiras, ciências exatas ou sociais. 

O USO DA INTERNET PARA A ATUALIZAÇÃO E CAPACITAÇÃO DO/A PROFESSOR/A

Como a Internet facilita o acesso a toda a produção intelectual, ela é, junto com a facilidade de trabalhar com um grupo de pessoas sem o ônus de reuni-las no mesmo lugar e na mesma hora, um instrumento perfeito para a atualização e capacitação do/a professor/a de todos os níveis. Tanto em seus esforços individuais neste sentido quanto para atividades organizadas para o mesmo fim.

O/a professor/a tem acesso a material atualizado na sua área, tem a possibilidade de trocar idéias e participar de discussões com colegas, e através de projetos de ensino a distância, atualizar-se sempre.

ALGUMAS LIMITAÇÕES

Até o momento, o número de usuários da Internet cresce em ritmo muito mais acelerado que a capacidade de transmissão de dados. A demanda tem sido maior que os recursos daí muitas vezes o acesso à rede ficar complicado ou até inviabilizado. Isso pode ser devido ao trânsito excessivo de dados (em certos horários!), à sobrecarga do servidor imediato, a problemas técnicos da linha física de conexão que vão desde falhas nos cabos que ligam o seu terminal à rede local até ruídos na linha telefônica do seu bairro ou prédio.

Mesmo tendo êxito no acesso, o tráfego pesado de dados pode tornar uma sessão demorada, especialmente quando as páginas estão repletas de gráficos volumosos. Neste caso, há a possibilidade de configurar seu browser (programa que exibe os dados, por exemplo, NetScape) temporariamente para não exibir gráficos, em especial quando este material serve apenas para enfeite, e não carrega o conteúdo central em questão.

Como a Internet não tem dono nem central (ela vive de todos os seus elementos) não há maneira de controlar o material que nela transita. Em princípio, isto é uma de suas maiores virtudes.

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Markus J. Weininger,

Professor de Alemão/UFPR,

Doutorando em Lingüística Aplicada/UFSC

e-mail: markus@humanas.ufpr.br

markus@mbox1.ufsc.br

VIIIº ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Prática do Ensino), dia 7 a 10 de maio de 1996, na UFSC, Florianópolis, SC.

  

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.