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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

PROJETOS: UMA ALTERNATIVA PARA ORGANIZAR O CONHECIMENTO ESCOLAR?

Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Agosto/2001

 

A proposta que inspira os projetos de trabalho vincula-se a uma perspectiva do conhecimento globalizado e relacional. Esta é uma forma de organizar a atividade de ensino e aprendizagem, cujos conhecimentos não se ordenam, para a sua compreensão de uma forma rígida, nem em função de referenciais disciplinares pré-estabelecidos ou de uma homogeneização dos alunos. A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação e ao vínculo entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio.

O que se pretende desenvolver com os projetos é a busca da estrutura cognoscitiva, o problema eixo que vincula as diferentes informações, às quais confluem num tema para facilitar seu estudo e compreensão por parte dos alunos.

As bases teóricas dos projetos são as seguintes:

1.    A aprendizagem deve ser significativa, ou seja, deve pretender conectar e partir do que os alunos já sabem, de seus esquemas de conhecimento precedentes, de suas hipóteses que podem ser verdadeiras, falsas ou incompletas ante a temática que se há de abordar.

2.    É necessário que haja atividade favorável para o conhecimento por parte dos estudantes sempre e quando o professorado seja capaz de conectar com seus interesses e de favorecer a aprendizagem.

3.    Deve-se configurar a partir da previsão, por parte dos docentes, de uma estrutura lógica e seqüencial dos conteúdos, numa ordem que facilite sua compreensão. Há que se considerar que esta previsão é o ponto de partida e não a finalidade e pode ser modificada na interação em classe.

4.    Realiza-se com um evidente sentido de funcionalidade do que se deve aprender.

5.    Valoriza-se a memorização compreensiva de aspectos da informação com a perspectiva que estes aspectos constituem uma base para estabelecer novas aprendizagens e relações.

6.    Por último, a avaliação trata, sobretudo, de analisar o processo seguido ao longo de toda a seqüência e das inter-relações criadas na aprendizagem.

A característica básica de um projeto é que ele tem um objetivo compartilhado por todos os envolvidos, que se expressa num produto final pelo qual todos trabalham. Além disso, os projetos permitem dispor do tempo de uma forma flexível, pois o tempo tem o tamanho necessário para conquistar o objetivo: pode ser de alguns dias ou de alguns meses. O aluno controla o tempo, divide e redimensiona as tarefas, e avalia os resultados. O trabalho com projetos nos remete à globalização, que é uma nova forma de se relacionar com a informação para transformá-la em saber compartilhado. O trabalho com projetos requer antes de tudo uma vontade de mudança na maneira de fazer do professor e uma reflexão sobre a sua prática. É um processo de inovação aberto que, a partir de uma necessidade inicial, vai sofrendo modificações. Podemos afirmar que o aluno aprende melhor quando torna significativa a informação ou os conhecimentos que se apresenta em sala de aula e ele próprio, coletivamente, constrói o conhecimento. Os projetos nos permitem trabalhar com a zona do desenvolvimento proximal, favorecendo a interação na sala de aula e fundamentando uma proposta de educação para a diversidade. E o processo de avaliação é formativo, contínuo, global, adaptado à diversidade, auto-avaliativo e recíproco (dos alunos e do professorado). É valorizada a autonomia pessoal, o senso crítico, a democracia e a participação além da possibilidade do ensino estar sempre atualizado culturalmente.

Para tornar significativo um novo conhecimento, é necessário que se estabeleça algum tipo de conexão com os que o indivíduo já possua, com seus esquemas internos e externos de referência, ou com as hipóteses que possam estabelecer sobre o problema ou tema, tendo presente, além disso, que cada aluno pode ter concepções errôneas que devem ser conhecidas para que se construa um processo adequado de ensino-aprendizagem, dentro de uma inter-relação comunicativa. É necessário que se estabeleça entre as intenções, recursos e atividades propostas pelos professores, conexões com seus conhecimentos iniciais com o que cada estudante já possui para que se possa chegar a estabelecer relações a partir destes conhecimentos. Assim, sua aprendizagem não procede por acumulação, e sim pelo estabelecimento de relações entre diferentes fontes e procedimentos para abordar a informação.

Essa forma de aprender precisa antes de tudo ser incorporado pelo professor que tem que ser flexível. E essa proposta pretende desenvolver no estudante um senso, uma atitude, uma forma de relacionar-se com a nova informação a partir de aquisição de estratégias procedimentais, que faça com que sua aprendizagem vá adquirindo um valor relacional e compreensíveis, com um certo grau de flexibilidade às mudanças sociais e culturais.

O que temos que ter em mente é que o trabalho com projetos não é uma resposta perfeita, nem definitiva e nem única de se trabalhar.

 

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros

      Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental - Brasília.  1997, p.62.

HERNÁNDEZ, Fernando. VENTURA, Montserrat. A organização do

      currículo por projeto de trabalho: o conhecimento é

      um caleidoscópio.  Trad. Jussara Haubert Rodrigues.

      Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 5ª edição.

  

 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educação pelo PROINFO – MEC.