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EDUCAÇÃO & LITERATURA

JOSUÉ GERALDO BOTURA DO CARMO

 

 

 

 

O FUTURO DA EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO DO FUTURO

            Josué Geraldo Botura do Carmo[1]

Fevereiro/2003

 

   

 "A escola tradicional, que faz o adestramento de seus alunos,

que ensina todos da mesma maneira, é extremamente nociva para a sociedade"

LITTO 

A Educação hoje busca uma escola mais dinâmica e mais relevante, aplicando os conhecimentos da cognição humana e das novas tecnologias educacionais. A questão levantada é: como as novas tecnologias podem ajudar a melhorar a educação?

Segundo LITTO[2], a Escola do Futuro, laboratório interdisciplinar de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), pioneira nos estudos da aplicação desses novos paradigmas na educação, vem há 12 anos desenvolvendo importantes contribuições para a educação tais como: a Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro, o Laboratório de Ciência e Educação a distância, o Centro de Capacitação Profissional, o Banco de Dados de Softwares Educacionais, entre outros. O entrevistado sente que as experiências no tocante ao ensino fundamental e médio estão consolidadas e que está na hora de se desenvolver projetos na área do ensino virtual a distância para instituições de ensino superior e para as universidades corporativas. A Escola do futuro tem procurado crescer e conquistar parcerias, combatendo o conservadorismo das secretarias estaduais e municipais de educação e do MEC, que resistem contra mudanças, com medo de serem substituídos pela máquina e de aprender coisas novas. 

Para o entrevistado, estamos vivendo um momento de transição e que durante um bom tempo teremos ainda escolas públicas e privadas com ambientes de aprendizagem do século XIX, outras com ambientes do século XX e algumas com ambientes do século XXI. Para ele hoje a grande responsabilidade da educação está nas mãos do aluno, do aprendiz, o professor passa a ser uma espécie de "desenhista" ou de "arquiteto" das atividades de aprendizagem de seus alunos. 

A tendência é que as instituições escolares ofereçam seus conteúdos em diferentes formatos: presencial, Internet, vídeos, TV aberta ou fechada, material impresso, para que o aluno possa escolher aquele que melhor lhe agrade, com o que se sinta mais confortável ou aquele que melhor convier para o seu aprendizado naquele momento. Estamos caminhando para o cenário educacional pluralista, que oferecerá um leque grande de abordagens ao processo de aquisição de conhecimento e de habilidades. O Brasil é um país que comporta todas as formas de EAD[3]: por correspondência, por fitas cassete, por vídeos, pela televisão aberta e por canais fechados, por videoconferência e pela Internet. O aluno escolhe a sua forma de aprende de acordo com seus interesses e suas condições. E é interessante observar que "os maiores usuários no setor universitário de educação a distância, atualmente nos EUA, são os alunos que estão matriculados em cursos presenciais, mas querem acelerar seu aprendizado e o término de seus cursos e, para isso, utilizam-se dos recursos do ensino a distância".

"Na Faculdade de Engenharia de Stanford, por exemplo, duas ou três horas após cada aula de graduação, os vídeos dessas aulas ficam disponíveis para os alunos, inclusive pela Internet, de modo que o aluno não é mais obrigado a assistir a aula. O que interessa hoje em dia é a competência e o conhecimento que o aluno possui, não o número de horas que seu traseiro fica sentado em sala de aula".

Para o entrevistado "o modelo educacional que prevalece entre nós está defasado em relação àquilo que a ciência já sabe sobre como a mente humana funciona, principalmente com relação aos processos de aprendizagem e às tecnologias já disponíveis no mercado e nem de longe aproveitadas na educação formal".

Na opinião do entrevistado a educação a distância vai dar uma mexida geral na educação no mundo todo, e em todos os níveis de aprendizagem. As novas tecnologias de comunicação permitem a globalização da oferta e procura de programas educacionais, derrubando os muros criados e mantidos por questões de local geográfico. Dessa forma instituições educacionais em todos os níveis de ensino: fundamental, médio, superior, pós-graduação e continuado  podem oferecer seus cursos para um público internacional e emitir diplomas que serão reconhecidos não por ministérios ou secretarias de educação, mas pelo mercado, pela reputação na praça (internacional) que a instituição tem como promotora da aprendizagem de alto nível. Da mesma forma alunos e pais de alunos não ficarão mais limitados à escolha de instituições locais, podendo optar por instituições  distantes, de prestígio inquestionável, disponíveis via educação a distância. Esse fato vai contribuir para a melhoria de todas as instituições educacionais. Já existem nos EUA instituições não universitárias, portanto não credenciadas, inclusive grandes editoras, dando cursos de pós-graduação e MBA's e emitindo certificados que não são regulamentados, mas que são muito bem aceitos pelo mercado.

Quanto a Associação Brasileira de Ensino a distância (ABED), é uma sociedade científica e educacional que conta atualmente com mais de 1300 associados. Essa Associação conseguiu reunir e integrar cinco comunidades distintas: Escolas públicas e privadas de ensino básico; instituições de ensino superior públicas e privadas; o sistema SENAI, SESC, SESI, SENAC; as universidades corporativas e os grupos de educação continuada, como as ONGs, Associações e Sindicatos.
 

"A comunidade científica de pesquisadores em educação a distância já adotou a ABED como fórum para debates, discussões, atualizações e apresentações de trabalhos. A educação a distância passa a ser muito valorizada pela comunidade educacional. A fase de descrédito dos anos 80, gerada pelos cursos supletivos picaretas, já passou". (LITTO)

 Para o entrevistado o aluno é hoje o principal responsável pela sua própria educação, e é papel do professor fazê-lo perceber isso. Sabemos que aprendemos melhor fazendo, atuando, descobrindo através de ensaios e erros, e é papel do professor desenhar atividades a serem realizadas pelos alunos de forma que eles descubram o conhecimento desejável, que eles construam o conhecimento a partir de levantamento de dados e de hipóteses a serem confirmadas. O professor é um colega do aluno, que como ele busca o conhecimento atualizado e completo.

"A exploração de novos ambientes, a busca e seleção da informação, as tentativas e erros e a liberdade de ir e vir na construção do conhecimento são elementos que precisam estar presentes no processo educacional. Sem essa liberdade e interatividade não haverá mais prazer e motivação para se estudar". (LITTO)

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

LITTO, Fredric Michael. O Ensino a Distância e as novas Tecnologias aplicadas à educação. Entrevista. set.out.2002

<www.aprendervirtual.com>

acessado em 13.02.2003

 

[1] Pedagogo com habilitação em Administração Escolar de 1º e 2º graus e Magistério das Matérias Pedagógicas de 2º Grau. Professor facilitador em Informática Aplicada à Educacação pelo PROINFO - MEC - NETE - MG2

[2] Fredric Michael Litto nasceu em Nova Iorque, no ano de 1939. Formou-se Bacharel em Rádio e Televisão pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) em 1960, Ph.D em Comunicações pela Universidade de Indiana em 1969, e Livre Docente pela Universidade de São Paulo (USP) em 1977. Lecionou nas Universidades de Indiana (1960-1964), Bowdoin (1964-1965) e Kansas (1965-1971). Desde 1971, é Professor Titular da Escola de Comunicações e Artes da USP, atuando no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão. Foi Consultor da CAPES (1974-1980), do CNPq (1980-1985), e da FAPESP (1990-atual). Trabalhou em Rádio Educativo em Los Angeles (Pacifica Foundation KPFK-FM e UCLA Rádio) 1958-1960, e em Televisão Educativa (UCLA TV) 1959-1960. Foi consultor do Projeto Saci em 1972 (INPE, São José dos Campos), consultor da Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 1977-78 e membro do Comitê Assessor de Informática em Educação do Ministério da Educação (1985-1992). Desde 1989 é fundador e coordenador científico da Escola do Futuro, laboratório interdisciplinar de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), que investiga as aplicações educativas das novas tecnologias de comunicação. Em 1995 foi eleito Presidente da Associação Brasileira de Educação a distância (ABED) e re-eleito em 1999 para um segundo mandato.

 [3] Educação a Distância